Titãs - 1ª Temporada
A série Titãs já nasceu com dois grandes pesos pra lidar: mostrar as pessoas que vale a pena assinar o serviço de streaming da DC Comics, o DC Universe, e adaptar o segundo maior e mais querido grupo de heróis da editora, os Jovens Titãs. Pois bem, a série conseguiu galgar ambas a proposições impostas e se tornar a melhor adaptação live-action para TV da DC Comics, mas, ainda continua com os mesmos vícios de roteiro herdados das produções existentes.
A proposta de Titãs é trazer a ambientação e o estilo sombrio já apresentando nos cinemas e ao mesmo tempo manter o lado fantástico que é presente nas histórias em quadrinhos, coisa a qual, foi praticamente descartada no cinema e apenas começou a ser explorada em Mulher-Maravilha e Aquaman. Tal proposta é muito bem desenvolvida durante toda a série, conseguindo equilibrar e sabendo dividir os momentos os quais precisa ser sombria e, um tanto quanto, realista, como, por exemplo, em cenas de batalha e questionamentos levantados pelos personagens perante algumas questões, com os momentos que precisam ser fantásticos, principalmente na hora de apresentar poderes e expandir o universo ali estabelecido através de flashbacks. Vale ressaltar também que existem momentos onde os dois estilos se entrelaçam e se tornam bastante marcantes.
Além disso, é nítido perceber o enfoque da série, resumindo-se a apresentar e desenvolver de forma densa e bem elaborada os dois personagens que tem os holofotes voltados para eles, que são Dick Grayson/Robin e Rachel/Ravena, fazendo com que Cory/Estelar e Garfield/Mutano acabam sendo coadjuvantes dos dois. Contudo, a opção de focar apenas nos dois, acaba sendo acertada pelo lado de desenvolvimento de trama, já que ambos oferecem o mesmo dilema, ainda que apresentem diferenças consideráveis, o fato de ambos terem trevas dentro de si e que não conseguem controlar, assim, fazendo com tenham medo de acabar sucumbindo as suas respectivas ameaças.
Olhando pelo lado de Cory e Garfield, acaba sendo um pouco mais complicado, pois, Cory apresenta um início bastante intrigante e curioso, fazendo com que o telespectador seja fomentado pela vontade de querer descobri junto com a personagem, sobre algumas coisas do seu passado, tornando a personagem bastante misteriosa durante a série e até redundando em uma reviravolta curiosa. Ao passo que Garfield apresenta a famosa introdução básica, sendo: nome, como conseguiu os poderes e apenas uma centelha do passado, tudo isso para apenas apresentá-lo e acabar subutilizando o personagem como um simples alívio cômico e que acaba não acrescentando muito a trama.
Além dos quatro personagens principais, ou pelo menos assim deveriam ser tratados, existem também outros que auxiliam a trama, como Hank/Rapina e Down/Columba, que chegam a ter um episódio apenas sobre eles e é sem dúvida um dos pontos altos da série, abordando o passado deles e o seu relacionamento, fazendo com o que o telespectador se sinta cada vez mais curiosidade em conhecer mais e fique mais apegado aos mesmos. Contudo, a série também apresenta uma outra personagem, Dona Troy/Moça Maravilha, que acaba não sendo tão importante para a trama e, infelizmente, descartável, porém, vê-lá interagindo com os outros é bastante legal e promissor para a segunda temporada, principalmente para os fãs.
Ao mesmo tempo em que a série é sobre os Jovens Titãs, a narrativa faz questão de frisar que personagens são ajudantes dos grandes heróis da Liga da Justiça e transforma isso em muleta de roteiro para atiçar os fãs a se sentirem engajados na série, mas, que na verdade, acaba se tornando extremamente repetitivo e expositivo, fazendo com pensemos "beleza, já entendi que o Robin se desentendeu com o Batman, mas, dá pra seguir em frente?" e acaba nos tirando da imersão dentro desse universo e, o que se tornar o pior dos fatores, tira completamente o tempo de tela que claramente poderia ser usado para aprofundar os personagens Cory e Garfield.
O roteiro de Titãs, apesar de entregar bem a proposta, escorrega na hora de mostrar os dramas enfrentados pelos personagens e os conflitos que acabam sendo gerados dentro do grupo, chegando a beirar os estilos das séries da DC Comics produzidas pela CW, como Arrow, The Flash e Supergirl, pois muitas vezes são fúteis e e até um pouco deslocados com o que de fato os fez sem juntarem, tornando-os, em alguns momentos, cansativo e enfadonho. O roteiro não consegue entregar e ser assertivo com o destaque da série, Dick Grayson, fazendo-o parecer ser importante apenas por ser o Robin, o que, consequentemente, acaba usando como desculpa para invocar tudo que cerca o Batman durante todos os flashbacks vividos pelo personagem.
Quanto a caracterização, a série fica no equilíbrio entre grandes acertos e horríveis erros. As roupas dos Robins são excelentes e fica bastante claro as cores que foram utilizadas e como foram utilizadas nos uniformes, sendo umas das melhores adaptações das histórias em quadrinhos, sendo seguidas de perto pelas roupas usadas por Columba e Rapina, sendo exageradas e até estranhas como são suas versões originais. Ravena também apresenta um visual bastante interessante, mesclando o visual da personagem nos quadrinhos com uma roupa normal de uma adolescente que goste do estilo gótico, fazendo bastante sentido ao que foi proposto. Contudo, os erros de vestuário da série acaba sendo nos visuais do Mutano e da Estelar, pois, Mutano não apresenta a sua habitual pele verde que é intrínseca a origem de seus poderes, coisa a qual tornaria a ser muito mais interessante em ele se esconder junto com a Patrulha do Destino e contribuiria para um drama pessoal que pudesse ser desenvolvido para o personagem e que, consequentemente, aprofundaria o mesmo de forma simples e direta, tornando-o muito mais interessante. Enquanto isso, o visual da Estelar, acaba sendo o mais decepcionante, pois além de não apresentar quase nenhum traço de seu visual original, acabaram perdendo a chance de no último episódio apresentar algo mais parecido com o que já foi visto da personagem em diversas outras adaptações, contudo, mais uma vez, fica a expectativa para segunda temporada.
Além disso, as atuações são boas e convidativas a apreciação de cada personagem, mesmo que as vezes acabem escorregando em algumas partes, fazendo com que cada escolha tenha sido um acerto. Brenton Thwaites, apesar de entregar um bom Dick Grasyon e ter uma atuação boa, acaba não sabendo entregar bem os dramas que o envolvem e o tornam mais leves do que realmente são. Enquanto isso Teagan Croft apresenta uma Rachel cheia de dúvidas sobre os seus poderes e em um dilema que carrega durante toda a série sobre usá-los ou não, contudo, a personagem acaba não evoluindo conforme seus dramas evoluem e se desenrolam, o que tornam um pouco decepcionante ao fim da série. Por sua vez, Ryan Potter, apesar de apresentar um tempo de tela bastante reduzido, visto o tempo dos outros atores, apresenta um Garfield bem fiel aos quadrinhos e bastante convincente, quanto a sua personalidade e o seu jeito de lidar com as mais terríveis situações, sendo um excelente alívio cômico e com frases e trejeitos que ajudam a passar essa aura de positividade que o personagem tem. Por fim, Anna Diop entrega uma Cory excelente, tornando todos os seus momentos muito bons e entregando com precisão os dramas enfrentando pela personagem e o jeito de ser e lidar com os diferentes personagens, sendo sem dúvida, o destaque do grupo nessa temporada.
Além dos atores que compõe o elenco principal, os responsáveis pelo elenco secundário também não deixam a desejar. Alan Ritchson e Minka Kelly, que interpretam Hank/Rapina e Dawn/Columba respectivamente, entregam de forma magistral os seus personagens, obtendo um brilho maior no episódio que os explora de forma mais aprofundada. Conor Leslie entrega uma Dona Troy/Moça Maravilha tão carismática, que nos faz esperar uma participação maior na segunda temporada. Curran Walters, entrega um Jason Todd/Robin bastante fiel as histórias em quadrinhos, tendo a personalidade intempestiva e sendo impulsivo, conseguindo balancear bem com o fato de ser um adolescente deslumbrado com as grandes coisas que o cercam, fazendo criar ótimas expectativas para torna-se um outro ótimo herói encarnado por Jason Todd nas histórias em quadrinhos.
Em suma, Titãs é uma boa série que mostra que a DC Comics ditou um novo estilo de se fazer séries sobre super-heróis e que os conteúdos exclusivos fazem valer a pena a assinatura do DC Universe. Contudo, a série acaba pecando em se apegar demais a elementos que estão fora da trama principal e usa-os como escada para impulsionar a série, tornando os personagens principais a permanecerem a sombra de personagens como Batman, Mulher-Maravilha e Superman, os quais nem aparecem na série, apenas são citados ou, no caso do Batman, aparece apenas algumas partes, silhuetas e sombras. Contudo, as atuações de forma geral são muito boas e fazem com que os erros não sejam notados, em quanto acompanha a série, e que consigam sobrepujar as menções dos grandes heróis e sempre fazer com que os holofotes voltem para eles. Por fim, apesar da série terminar de forma muito anti-climática e acabar enrolando demais nos últimos episódios apenas para gerar o gancho para a segunda temporada, a série aguça nossa curiosidade e vontade de querer ver mais dos personagens e de fato como o grupo Jovens Titãs.
Yorumlar