Demolidor - 3ª Temporada
Logo na primeira temporada, a série Demolidor já mostrava ao que veio, apresentando uma trama simplista e mais focada na realidade, uma visão mais humana e, consequentemente, mais limitada das ações de seus personagens (lembrando muito a visão que Nolan apresentou na trilogia de Batman) e, até, o ótimo desenvolvimento dos mesmos, desde os protagonistas até ao mais simples coadjuvantes. Esse conjunto de características fez com que Demolidor ditasse um novo jeito de produzir séries de heróis e apresentando como a Netflix abordaria os heróis da Marvel em suas produções.
Contudo, em sua segunda temporada, Demolidor acaba apresentando alguns equívocos em sua trama e em seus desenvolvimentos, como, por exemplo, elevar a ameaça a um nível nacional, ao invés de manter o foco na cidade de Nova York, não conseguir apresentar e desenvolver da forma como deveria os novos personagens inseridos e até chegar ao ponto de encaixar ninjas, tornando a temporada muito distante de sua proposta de visão sobre os personagens e um tanto quanto chata em alguns pontos. Tais equívocos não foram suficientes para estragar a segunda temporada, em compensação, também não conseguiu manter a mesma qualidade apresentada em sua primeira temporada, o que acabou diminuindo as expectativas para a terceira temporada.
Felizmente, as expectativas foram alcançadas e lindamente superadas nessa terceira temporada. De forma geral, a história é desenvolvida em cima da clássica jornada do herói, da sua queda e perda de confiança em si mesmo, até a ascensão e vitória sob a ameaça. Além disso, a trama volta a ser simples em sua ameaça, focando apenas em Nova York, mas, também é complexa, ao colocar em cheque várias questões referentes ao herói e o plano quase infalível do vilão principal, que acaba servindo de motivador para a criação do que será a próxima grande ameaça ao Demolidor.
Em seu início um tanto quanto calmo, a trama aproveita o gancho deixado pela primeira temporada da série Os Defensores, mostrando o drama enfrentado por Foggy Nelson e Karen Page após a aparente morte de Matt Murdock. Wilson Fisk também tem o gancho deixado pela segunda temporada de Demolidor, mostrando a sua dose de manipulação dentro da cadeia, o que virar a ser uma questão extremamente importante dentro de toda a série. Contudo, Matt Murdock apresenta uma excelente abordagem, mostrando um personagem mais quebrado e próximo de perder a sua fé após os diversos acontecimentos ruins que se desenrolaram em sua vida. Ou seja, logo em seu primeiro episódio, a temporada constrói a base para tudo que virá a ser desenvolvido.
A história, assim como no primeira temporada, é divida entre Demolidor e o Rei do Crime com uma pequena e mais valorosa adição de Ben Poindexter. Matt Murdock/Demolidor, começa sua jornada desmotivado e com a fé extremamente abalada após a perda de Elektra e o constante perigo enfrentado pelos amigos e as pessoas as quais ele tenta proteger. Essa mudança de ângulo perante a fé católica faz com que Matt Murdock abandone o manto de Demolidor e, consequentemente, o faz repensar sobre a sua verdadeira missão e valores, sendo colocados a prova durante toda a série até o último episódio. Contudo, essas questões vão tomando forma graças aos conselhos e a valorosa ajuda da Irmã Maggie, responsável não só por tratá-lo fisicamente, como também mental e espiritualmente.
Ao passos que Matt Murdock vai se tratando e o Demolidor retornando a ativa, ainda que debilitado, Wilson Fisk começa a colocar seus planos em prática e galgando cada vez mais espaço dentro de Nova York para se tornar o imbatível Rei do Crime. Sua jornada começa ainda na cadeia, fazendo um acordo (que consiste em Wilson Fisk entregar quem de fato são e onde moram os maiores líderes do crime organizado em troca da proteção do mesmo pelos agente federais em um local seguro) com o FBI através do Agente Nadeem, que consegue tirá-lo da cadeia e levá-lo a um dos melhores e mais caros apartamentos da cidade. A partir disso, os planos de Wilson Fisk começam a tomar forma e se desenvolverem em cima de uma trama extremamente detalhada, complexa e executada com maestria, transformando o personagem no Rei do Crime conhecido das histórias em quadrinhos. Esse desenvolvimento que a trama fornece aos personagem, faz com que Rei do Crime ascenda como um dos melhores vilões que a Marvel já produziu em suas séries e filmes, fazendo com que o mesmo tenha todos os agente federais na palma da sua mão e utilizá-los ao seu béu prazer. Aliás, como é dito na própria série, "Wilson Fisk sempre parece está 5 passos a frente de todos".
No meio dessa trama de perdas e conquistas para o protagonista e antagonista, surgi o Agente Ben Poindexter, também chamado de Dex. Esse personagem acabou não roubando a cena porque os roteiristas conseguiram elaborar muito bem a dosagem dele durante toda a temporada, apresentando seu passado em momentos chave e desenvolvendo sua história aos poucos e muito bem detalhada, o que acaba nos fazendo pensar "eu não concordo com ele, mas também entendo pra caramba" sem que isso tire Demolidor e Rei do Crime do foco das atenções. Além disso, o futuro Mercenário, ou, em inglês, Bullseye, como é conhecido nas histórias em quadrinhos, também apresenta um desenvolvimento psicológico muito bem desenvolvido e fundamentado, fazendo com que o telespectador entenda todas as sua motivações e o que o fez torna-se ser o que ele é.
Além disso, o novo personagem secundário, Agente Nadeem, desempenha um papel importantíssimo dentro da série, sendo uma das pessoas mais normais já apresentadas nas séries da Marvel. Essa normalidade do personagem deve-se ao fato dele ser uma pessoa completamente falível e que de fato faria de tudo para manter a segurança de sua família, mesmo que isso signifique o fim de carreira profissional e, até mesmo, da sua vida. Vale ressaltar também, que a construção do personagem em conjunto com a sua família é construída de forma tão orgânica e naturalmente aprofundado, que consegue manter o personagem como secundário, sem ofuscar os três principais (Demolidor, Rei do Crime e Dex) e, ao mesmo tempo, faz com que nos importemos com o mesmo durante toda a série, principalmente no desfecho de seu arco.
Os personagens Foggy Nelson e Karen Page também ganharam mais espaço dentro da série, tendo suas participações mais decisivas e indo além de "amigos do Demolidor". Essa importância que o roteiro oferece aos personagens, promove ao telespectador uma maior empatia aos mesmos, independente de você gostar ou não deles, e faz com que todas as ações tenham algum peso durante a trama, principalmente quando acabam cometendo alguns erros. Tais erros, de certa forma, acabam fazendo com que a trama se desenrole de forma mais intensa e dinâmica, gerando sensações de suspense e frustração.
Pro fim, pode-se dizer que a série como um todo conseguiu ser excelente como um todo, mas que pecou em alguns detalhes, como, por exemplo, o uso excessivo de flashbacks para aprofundar a personagem da Karen Page, onde eles poderiam fazer uso de diálogos mais objetivos e seguir em frente na história da personagem, e os trejeitos um tanto quanto excessivos do personagem Wilson Fisk, muitas vezes parecendo forçados e robotizados. Contudo, nada disso estraga ambos os personagens e muito menos a série, pelo contrário, são apenas detalhes ofuscados pela grandiosidade da série em sua simplicidade. Demolidor, manteve e até elevou o nível apresentado nas temporadas anteriores, como, por exemplo, na cena de plano sequência de luta, marca registrada da série e que consegue ser maior e melhor a cada temporada. Tudo isso, ao lado de diálogos objetivos e precisos, tornam a terceira temporada da série Demolidor, a melhor temporada e série feita pela Marvel em parceria com a Netflix. Caso tenha gostado das outras temporadas, certamente irá adorar essa, e, caso nunca tenha assistido, altamente recomendado.
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